Check-list pré-protesto contra os cortes na educação – ou: seu quarto está arrumado?
Por Luiz Augusto Módolo, em 16 de maio de 2019.
Caro estudante de universidade pública, um dia eu estive no seu lugar. Fiz minha graduação na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Enfrentei greves, protestos universitários, vi eleições para o Centro Acadêmico XI de Agosto e senti também meu comichão de mudar o mundo.
Deixem então que eu prepare um check-list, um tanto chato, do que é preciso fazer para ir num protesto em prol da universidade pública:
1) SAIBA QUE VOCÊ OCUPA UMA VAGA BANCADA POR DINHEIRO PÚBLICO – Você passou num vestibular difícil. Milhões de pessoas sonhariam em estar no seu lugar. Mas estas pessoas são convidadas apenas a pagar a conta do seu curso, nem sequer conseguindo sonhar em estar em sua vaga ou ver seus filhos numa vaga. Pagamos impostos caríssimos para bancar a estrutura estatal. E este dinheiro não brotou do chão nem cresce em árvores. Ninguém era obrigado a lhe bancar um curso universitário público, mas uma escolha neste sentido foi feita décadas atrás, e não necessariamente esta escolha durará para sempre. O dinheiro público da sua vaga inclui o salário de seus professores, a estrutura dos laboratórios e bibliotecas, etc. A cada dia que você adentrar no prédio de seu curso faça uma oração silenciosa ao povo (brasileiro, paulista, etc.) que financia seu curso. Respeite seus professores, funcionários da faculdade e colegas. Não vandalize o espaço público e respeite as regras da faculdade;
2) ESTUDE – Frequente todas as aulas, abandonando de vez a prática falsa e hipócrita das assinaturas forjadas nas listas de presença. Leia a bibliografia do curso. Faça perguntas aos professores. Frequente as atividades extracurriculares e os laboratórios. Se você não tem estágio após as aulas fique na biblioteca e reforce seus estudos.
No geral fique o mínimo de tempo possível no seu curso, isto é, se ele dura quatro anos se forme em quatro anos. Não seja um estudante profissional. Não bombe de ano ou nas matérias. Se esforce. Faça seu curso no tempo normal de duração. Lembre que seu trabalho é estudar, não mudar o mundo. Isto você poderá fazer depois, trabalhando na sua área de escolha, ou da forma que você preferir, mas com mais bagagem e substância, possuindo de quatro a seis anos de um curso público bem feito.
3) RESPEITE SEUS PAIS, EM SENDO O CASO – Muito provavelmente seus pais ou algum outro parente estão bancando a estrutura que lhe permite estudar. Respeite o tempo, o esforço e o dinheiro deles. É mais um motivo para você estudar, terminar seu curso no prazo e ser um bom aluno. Se você não respeita nem eles como um dia vou acreditar que você vai construir um mundo melhor?
4) CUIDADO COM A POLÍTICA ACADÊMICA – Mudar o mundo participando da política acadêmica é legal, mas lembre que seu trabalho é estudar. Não deixe que a participação em disputas acadêmicas tire seu foco dos estudos. Não deixe de ir a uma aula ou atividade acadêmica sequer para se meter em política.
5) ENTENDA O QUE ESTÁ EM JOGO –Você entendeu de fato qual é a causa que mobilizou os seus professores e colegas? Para ficar no exemplo mais recente você entende de Orçamento? Houve mesmo um corte no Orçamento de sua universidade? Como isto te afeta? Sua “lição de casa” sobre o protesto foi feita? Você vai perder alguma atividade acadêmica ou profissional (estágio, emprego, etc.) para comparecer ao protesto? O protesto é de fato sobre o assunto proposto ou há organizadores querendo te usar para engrossar um protesto com uma agenda oculta do que realmente é?
O fio condutor deste pequeno roteiro é a lição do canadense Jordan Peterson: antes de mudar o mundo arrume seu quarto!
(Agradeço ao meu amigo, Luiz Philipe de Oliveira por algumas das ideias deste texto)