A CRISE DAS INSTITUIÇÕES E A TENTAÇÃO POR ATALHOS
Na história do Brasil, o golpe militar de 1889 marcou não apenas a queda do Império, mas o início de uma longa caminhada em busca de estabilidade política e institucional. A Proclamação da República, embora celebrada por alguns, deixou marcas profundas que ainda ecoam em nosso sistema político. Subitamente, perdemos o “poder moderador” que, como uma bússola, assegurava o equilíbrio entre os poderes e dava à nação um ponto de coesão. Em seu lugar, surgiu uma República militarizada.
De lá para cá, tivemos sete novas Constituições Federais, rupturas e instabilidade política e econômica que mantiveram nosso país à margem de seu enorme potencial de desenvolvimento. Além disso, as Forças Armadas passaram a ser vistas pelo povo como os novos moderadores, uma visão distorcida que desvirtua suas verdadeiras funções e subverte a ordem constitucional.
Esse estado de coisas nos leva a um dilema que parece crônico: como restaurar a confiança nas instituições e devolver à sociedade o controle legítimo sobre os rumos da nação sem continuar apelando para uma nova intervenção salvadora das Forças Armadas?
Hoje, o país se encontra em uma crise institucional multifacetada, com problemas graves nos três poderes. Não estamos diante de uma crise de incompetência ocasional, mas de um colapso ético e estrutural que exige reflexão, mobilização e ação.
O Colapso dos Três Poderes: A Raiz do Problema
O Judiciário: De Guardião a Ameaça ao Estado de Direito
No Brasil contemporâneo, o Judiciário, que deveria ser o guardião da Constituição e dos direitos fundamentais, transformou-se em um ente político-ideológico. Hoje, é impossível ignorar as arbitrariedades cometidas por tribunais que ultrapassam seus limites constitucionais. Quando juízes decidem com base em convicções pessoais ou interesses de grupos, em vez de aplicarem a lei de forma imparcial, temos o nascimento da Juristocracia.
Em um estado onde a lei não é mais previsível, cidadãos vivem com medo. O Judiciário, ao perseguir opositores políticos, destrói a confiança pública e mina a liberdade, transformando o Brasil em um regime autoritário mascarado de democracia.
O Executivo: A Volta à Cena
O retorno do grupo político que esteve no poder por 13 anos trouxe de volta os fantasmas do passado: o maior escândalo de corrupção da história, que devastou a economia nacional e comprometeu a confiança pública. Essa mesma elite voltou a deter o poder sobre os cofres públicos e a implementar políticas desastrosas que sufocam o crescimento econômico, fragilizam o setor produtivo e promovem o clientelismo e o compadrio.
Hoje, o Executivo, em vez de liderar a nação em tempos de crise, promove a destruição da economia, o apoio à Juristocracia e o esfacelamento do tecido social.
O Legislativo: Refém dos Caciques e do Sistema Corrompido
Por sua vez, o Legislativo continua sendo um teatro de interesses particulares, dominado por caciques partidários fisiológicos que priorizam o controle do orçamento público em detrimento do bem comum. É um parlamento que negocia não ideias, mas benefícios pessoais, favorecendo-se da Juristocracia que abre caminho para uma política autoritária, onde o diálogo dá lugar ao toma-lá-dá-cá.
Hoje, observa-se alguns parlamentares tentando fazer o Legislativo cumprir seu papel, mas eles não compõem quantidade suficiente para fazer a diferença. Se o Poder Legislativo deixa de cumprir seu dever constitucional de frear os outros poderes em situações de abusos, o Estado de Direito cai.
O Estado de Exceção Invisível: Uma Ditadura Sem Nome
Em nosso tempo, não vivemos sob tanques ou fuzis, mas enfrentamos uma ditadura invisível que se proclama democrática, perseguindo opositores políticos, censurando e punindo, ilegal e pesadamente, tendo como alvo cidadãos comuns, jornalistas e até mesmo parlamentares. Ela se esconde nas brechas do sistema, disfarçada por discursos nobres e bandeiras de proteção da própria democracia. Mas como já alertava o filósofo francês Alexis de Tocqueville, “a tirania pode ser mais perigosa quando surge sob o pretexto de proteger a liberdade”.
Esse estado de exceção velado foi construído com o apoio de instituições comprometidas em sua essência. Não foi de um dia para o outro. Foi como uma árvore plantada em solo fértil, que cresceu lentamente, mas deu frutos amargos:
- No ensino, formamos professores universitários que, muitas vezes, traíram sua missão de educar para a verdade. Ensinaram que certo e errado, bem e mal, melhor e pior, honra e desonra, são valores relativos. Produziram jornalistas, advogados e profissionais que propagam narrativas alinhadas ao sistema, em vez de buscar a justiça ou o esclarecimento do povo. E tal traição continua ocorrendo massivamente, o que aumenta o desafio de correção de rota para o futuro.
- Na cultura, passamos a valorizar a feiura em oposição à beleza, a normalizar a promiscuidade e a enaltecer o crime (bandidolatria), as drogas e a libertinagem.
- Na imprensa, veículos de comunicação abandonaram o compromisso com a verdade para se tornarem propagandistas de interesses escusos do regime instaurado. É como o farol que deveria guiar os navegantes, mas está propositalmente apagado em noites de tempestade.
- No sistema jurídico, vemos um poder extrapolando suas funções, transformando juízes em legisladores, investigadores, acusadores e julgadores.
A consequência é uma elite que controla o orçamento público e subverte o poder político em favor de interesses próprios, enquanto a população é mantida na ignorância ou desorientada por valores maléficos e informações contraditórias.
O Ciclo Vicioso do Poder: Não Há Soluções Simples
O maior complicador dessa crise é que nenhuma solução parcial resolverá o problema por completo. Apenas a troca do grupo político ocupante do Executivo em 2026 não elimina, automaticamente, os males no Judiciário ou no Legislativo. Para frear o Judiciário e pôr um fim à Juristocracia, faz-se necessário ocupar o Legislativo com pelo menos dois terços de pessoas moralmente corretas, o que requer votos conscientes de milhões de eleitores.
E aqui está o nó que parece inquebrável: grande parte do eleitorado está alienado, manipulado ou coagido. A lavagem cerebral promovida por décadas de doutrinação coletivista em escolas, universidades e meios de comunicação criou cidadãos incapazes de reconhecer o valor da liberdade e os perigos do coletivismo, vulneráveis a promessas utópicas e discursos populistas. Há também aqueles que, em desespero, vendem seus votos por migalhas ou cedem à coerção de criminosos locais.
A História como Mestre
A história nos ensina que nenhuma nação sobrevive sem instituições sólidas e cidadãos vigilantes. O exemplo de Roma é emblemático: o colapso da República Romana não veio com a espada de Júlio César, mas com a corrupção gradual de seus senadores e a transformação das leis em ferramentas de interesse pessoal. Quando as instituições falham, abrem-se as portas para tiranias que se mascaram de salvadoras. O colapso da República Romana trouxe ditadores populistas que exploraram as fraquezas das instituições. Além disso, a corrupção moral de seus cidadãos também contribuiu para sua derrocada. Cícero, o grande orador romano, alertava que “uma república pode sobreviver à ambição de seus tiranos, mas nunca à corrupção de seus cidadãos”.
Outro exemplo vem dos Estados Unidos, onde, no século XIX, o país enfrentou sua própria crise de valores e divisões políticas durante a Guerra Civil. Foi somente após uma reconstrução moral e legal — liderada por vozes comprometidas com a liberdade e a dignidade humana — que os americanos conseguiram reconstruir suas instituições.
Analogamente, podemos pensar no Brasil como um navio à deriva. Em vez de seguirmos um rumo traçado pelas estrelas — os princípios constitucionais garantidores das liberdades fundamentais —, deixamos o leme nas mãos de quem prioriza os próprios interesses. É como se a tripulação de um navio ignorasse os avisos do capitão, optando por navegar em mares tempestuosos sem destino claro.
Os brasileiros precisam olhar para esses exemplos e reconhecer que a recuperação passa por um pacto moral e social que una cidadãos em torno de valores perenes, como honestidade, hombridade e genuína preocupação com as gerações futuras.
A Parábola do Farol e da Tempestade
Imagine uma tempestade violenta em alto-mar. O único guia para os navegantes é um farol erguido em um rochedo distante, emitindo sua luz constante e fiel. Contudo, um dia, os responsáveis pelo farol decidem apagá-lo e dizem aos marinheiros que a luz não é mais necessária, pois eles, de terra firme, saberão orientar os barcos remotamente. O resultado é o caos: embarcações naufragam, vidas se perdem, e aqueles no poder culpam o próprio oceano pela tragédia.
Assim são nossas instituições hoje: faróis que deveriam guiar o povo, mas que foram deliberadamente apagados para servir a interesses privados. Cabe a nós, enquanto cidadãos, reacender essa luz e exigir que o farol volte a cumprir sua missão de orientar a nação e proteger seus cidadãos em tempos de escuridão.
O Caminho da Restauração
A solução para essa crise não está em atalhos ou salvadores da pátria, mas em um esforço coletivo de reconstrução moral e institucional:
- Resgatar a Educação Escola
Precisamos formar professores que sejam verdadeiros mestres que honram sua bela profissão, não aproveitadores. A educação deve ser um ambiente de ensino respeitado e não uma fábrica de doutrinação e manipulação ideológica por trapaceiros travestidos de professores. Sem isso, continuaremos a produzir gerações incapazes de distinguir luz de trevas. - Reestabelecer a Independência das Instituições
Instituições precisam ser lideradas por pessoas que respeitem a lei. O Judiciário precisa cumprir seu papel fundamental de julgador imparcial e, para isso, precisa ser saneado, tendo desligados de seus quadros aqueles que desvirtuam seu propósito. O Executivo precisa ser um eficiente cumpridor das leis e zelador do orçamento público. O Legislativo deve ser restaurado como o verdadeiro guardião do interesse público, sendo ocupado por pessoas moralmente virtuosas. - Garantir uma Imprensa Livre
A imprensa precisa recuperar sua função de informar, e não de manipular; deve voltar a ser o quarto poder, fiscalizando os abusos e iluminando os cantos escuros do poder político e econômico. Um jornalismo honesto é como um espelho para a sociedade, refletindo a verdade sem distorções. - Despertar a Sociedade Civil
Nada disso será possível sem a ação dos cidadãos. A mudança começa quando cada um de nós assume seu papel como guardião da liberdade e da justiça. É preciso mobilizar-se, participar e, acima de tudo, ser vigilante. Como ensina o Evangelho, “a quem muito foi dado, muito será pedido”. Nossa liberdade, tão arduamente conquistada, exige de nós responsabilidade e ação. Movimentos cívicos — institutos, associações e afins — têm um papel central na conscientização e na mobilização da população. Como já dizia Edmund Burke, “para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”.
A Parábola do Lavrador e o Campo Tomado por Espinhos
Imagine um lavrador que negligencia sua terra por muitos anos. Espinhos crescem onde antes havia trigo, e as raízes do bem são sufocadas. Quando o lavrador finalmente percebe o desastre, a tarefa de limpar o campo parece impossível. No entanto, ele sabe que sua sobrevivência depende de começar o trabalho — arrancando espinho por espinho, cultivando paciência e esperança.
Assim é o Brasil hoje. Nossas instituições estão tomadas por espinhos: corrupção, interesses próprios e manipulação ideológica. Mas a solução não virá da desistência, tampouco de intervenção das Forças Armadas. Virá do trabalho paciente e determinado de cada cidadão.
Conclusão
O Brasil é como um jardim que foi negligenciado por muito tempo. As ervas daninhas do oportunismo, da corrupção, da desinformação e do coletivismo sufocaram as plantas saudáveis. Mas todo jardim pode ser renovado, se houver mãos dispostas a trabalhar. O Brasil é um país jovem, mas sua alma está marcada por lutas e superações. Tal como a semente que precisa romper a terra para florescer, o povo brasileiro precisa romper com as amarras da corrupção, da desinformação e do coletivismo.
Cada cidadão é chamado a ser um agente de transformação. Nosso futuro não será construído por salvadores da pátria ou por atalhos milagrosos, mas pela ação consciente e determinada de milhões de brasileiros. Como na parábola do lavrador, o trabalho é árduo, mas o campo pode, sim, voltar a florescer.
Com valores sólidos, coragem e união, podemos reacender a luz de nossas instituições e construir um Brasil onde a liberdade, a justiça e a dignidade prevaleçam sobre as sombras da opressão. Que sejamos os jardineiros de uma nova era, cultivando instituições fortes e fundamentadas em valores perenes.