1984 NÃO É MAIS FICÇÃO
1984 DE GEORGE ORWELL NÃO É MAIS FICÇÃO
Por Gerson Gomes
A famosa novela escrita em 1949, quatro décadas antes do ano estampado em seu título “1984”, tem sido retirada das prateleiras de antigas obras de ficção científica e posicionada em local de destaque nas livrarias de todo o mundo. Qual a razão? Do que trata esse livro para, subitamente, voltar a ser procurado por leitores de todos os países e de todas as idades?
George Orwell escreveu sobre um mundo que não existia antes do século XX. Um estado descrito como “totalitário” era algo bem pior que os governos tirânicos conhecidos até então e o país descrito nas páginas de “1984” era governado por um sistema político quase inimaginável à época.
Aristóteles havia definido o termo “tirania”, muitos séculos antes, como a forma de governo onde uma pessoa, ou um pequeno grupo, exerceria o poder de acordo com sua vontade. O governo de Orwell era diferente. O controle sobre a totalidade da vida sobrepujava a tirania aristotélica e, a bem da verdade, somente deixaria as páginas da ficção com o surgimento da ciência e tecnologia modernas.
Heródoto conta que, na Pérsia, até mesmo pensar em algo ilegal era crime. A lei dos persas almejaria abarcar o que as pessoas tinham em suas mentes. O famoso historiador grego, no entanto, desmistificou essa crença popular, afirmando que os governantes não seriam capazes de acessar os pensamentos.
Orwell, em contrapartida, concebeu um mundo onde a tecnologia seria capaz disso, com câmeras e microfones escondidos por toda parte para ver e ouvir tudo o que era feito no fictício país de Oceania. O controle total era exercido pelos agentes da “Polícia do Pensamento”, experts em ler e interpretar as expressões faciais.
Para a inveja de muitas lideranças políticas de “democracias” em nossos dias, na China já existe algo muito próximo ao mundo de Orwell. Câmeras e sensores por toda parte registram e analisam o comportamento das pessoas, com amplo uso de inteligência artificial. O tráfego de mensagens via internet é monitorado e algoritmos poderosos atribuem um escore social a cada indivíduo. Quando um chinês age (e pensa) de forma considerada politicamente incorreta é penalizado pelo governo, pondo em risco seu emprego, sua família e amigos. O faltoso pode vir, assim, a perder a liberdade de viajar pelo próprio país, onde a permissão para consumir determinados produtos e serviços passa a ser condicionada ao perfil individual junto ao PCC (Partido Comunista Chinês).
Cabe reconhecer que a tecnologia apta ao controle e manipulação de decisões não é exclusividade chinesa, sendo amplamente utilizada, também, nas redes sociais do ocidente, onde são rastreadas as compras, viagens, os restaurantes frequentados, hábitos de lazer, prontuários médicos, trajetos percorridos de automóvel, etc.
Em “1984” o protagonista é um homem chamado Winston Smith, funcionário subalterno do governo de Oceania. Seu burocrático trabalho é reescrever a história e, para tal, desaparece com dados do passado de determinados cidadãos. Seus alvos podem ser pessoas com elevada importância política, ou apenas simples habitantes que tenham faltado com alguma obrigação para com o Estado. A tarefa é cumprida apagando–se fotografias em livros, revistas, jornais, e demais registros históricos que tenham que se conformar à nova “verdade” recebida de seus superiores.
Orwell expõe em detalhes os conflitos psicológicos de Winston, que se torna cínico diante do passado constantemente falsificado, nutrindo um sentimento de que nada é verdadeiro também no presente. O protagonista, então, comete dois atos ilegais em Oceania: inicia a escrita de um diário pessoal e, concomitantemente, passa a se encontrar em segredo com Julia, por quem se apaixona. Nesse ponto da trama surge um “gentil” idoso, dono da loja sobre a qual Julia e Winston secretamente se encontravam que, revelando sua verdadeira identidade de agente da polícia do pensamento, denuncia o casal. Winston é preso, torturado e enviado para um “seminário” chefiado pelo vilão da obra, O’Brien, que veio a ser interpretado por Richard Burton em sua última participação no cinema. O filme baseado na obra de Orwell foi lançado na Inglaterra, com óbvio senso de oportunidade, em outubro de 1984, seguido da estréia nos EUA em dezembro, na cidade de Nova York.
O’Brien se valia do “pensamento duplo” como ferramenta de lavagem cerebral, impondo a adoção simultânea de dois pensamentos, sempre contraditórios, para a “reeducação” dos internos. Por essa razão, o órgão de tortura em Oceania integrava o “Ministério do Amor” e no “Ministério da Verdade” estavam presentes os slogans: GUERRA É PAZ; LIBERDADE É ESCRAVIDÃO; IGNORÂNCIA É FORÇA.
“Cortamos as conexões entre as crianças e seus pais, entre homens e mulheres… ninguém mais ousará confiar em uma esposa, em um filho, ou mesmo em um amigo” discursava O’Brien. “No futuro os filhos serão retirados de suas genitoras como hoje os ovos são colhidos de galinhas e o instinto sexual erradicado. A procriação será uma formalidade anual, como a renovação de um cartão de alimentação. Não haverá mais lealdade, a não ser a lealdade ao partido e ao seu líder supremo, Big Brother.” Daí surge a marca mundial do famoso reality show.
Ao ler 1984 é quase impossível não trazer à memória a polêmica gestão da pandemia de Covid-19. Escolas fechadas e rotuladas como perigosas enquanto ajuntamentos “progressistas” de protesto eram considerados seguros e necessários. Clínicas de aborto listadas entre os serviços essenciais, enquanto exames, tratamentos de saúde e cirurgias importantes eram postergados e cancelados. Templos religiosos fechados por ação policial, enquanto lojas de bebidas e cassinos eram mantidos funcionando. Nunca os slogans do Ministério da Verdade foram tão eficientemente empregados! A imposição mundial do uso de máscaras, as decretações indiscriminadas de lockdowns, os toques de recolher e as atividades ao ar livre banidas, tudo ao mesmo tempo, nos remetem à incômoda pergunta: Como foi possível impor esse nível de controle social, de maneira tão uniforme e global?
Orwell era um crítico do totalitarismo gestado logo após a II Guerra Mundial no ambiente europeu. A sociedade fictícia que reproduziu era completamente destituída de liberdade, subjugada por um Estado totalitário, que controlaria tudo e todos: o que comem, o que leem, o que sentem. Nesse contexto distópico, todos eram desafiados a abandonar as evidências trazidas por seus próprios olhos e ouvidos.
A atualidade dessa novela de ficção é incrível! Escrita antes da ascensão e derrocada da União Soviética, da queda do muro de Berlim, do surgimento dos computadores pessoais, smartphones e mesmo da internet, a obra de Orwell apresenta um “Big Brother” dotado de uma inteligência artificial que, mesmo hoje, nos parece assustadora. Há uma incômoda usurpação da onisciência e onipresença divinas nesse livro, escrito muito antes do surgimento da comunicação satelital, da fibra ótica, das moedas digitais, ou mesmo do comércio virtual.
Se há 40 anos, na escuridão das salas de cinema, sua obra foi encarada como mera diversão, hoje é levada a sério por milhares de cidadãos desconfiados dos O’Briens contemporâneos. O risco do totalitarismo é real e assola o presente. A manipulação ardilosa do passado é feita às claras, enquanto um futuro global é modelado à revelia e sem delegação. É impressionante que, no Fórum Econômico Mundial, um governo único seja vaticinado como inexorável, estribado em uma autoridade de origem desconhecida da maioria dos habitantes desse planeta que Klaus Schwab deseja “salvar”. Gestores globais de ativos financeiros impulsionam políticas públicas, fielmente seguidas com um nível de orquestração jamais visto, à medida que pautas como “mudanças climáticas”, “nova ordem mundial”, “agenda 2030”, ou “nova matriz energética” são pacificamente assimiladas como se emanadas de um oráculo na antiguidade greco-romana. Big Brother está vivo. 1984 não é mais ficção!
É lamentável essa triste realidade. Mas a culpa é nossa que nos afastamos da política.
Platão foi cirúrgico e nós brasileiros estamos pagando o preço. A frase atribuída e ele expressa a nossa cruel situação:
“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam”.
Eu me sinto muito culpado por tudo isso. Quando fui convidado no passado recusei alegando, inocentemente, que politica é “coisa” de gente safada.
Ocorreu o mesmo comigo.Simplesmente me afastei por 15 anos da política, hoje colhemos frutos amargos.
A vida imita a arte , e a arte prevê a realidade !!👍🏼🙋🏻♂️
A fatura chegou, pra quem usou ou não o cartão…a frase: Política, religião e futebol não se discute será que vale aínda? Principalmente a política ?